Materialização discursiva da violência de gênero em notícias jornalísticas: como a mídia narra feminicídios

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Data

2023-11-30

Currículo Lattes

http://lattes.cnpq.br/1661558926546659

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Editor

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Alagoas

Resumo

Pautado nas perspectivas epistemológicas e na agenda ética da Linguística Aplicada conetmporânea (Moita Lopes, 2018), aliada a uma perpesctiva feminista nos estudos da linguagem (Cameron, 1991; Vallada; Pinto, 2021), o presente trabalho tem como objetivo produzir uma interpretação crítica acerca dos significados sociais atrelados à violência contra as mulheres na prática jornalística brasileira, focalizando especialmente o modo como notícias jornalísticas narram crimes de feminicídio. Para tanto, por meio de uma extração automatizada feita com linguagem Python e da aplicação de critérios não automáticos de inclusão e exclusão, foi constituído um corpus de 12.199 notícias sobre feminicídio, publicadas no maior site brasileiro de notícias brasileiro, o G1, entre os anos de de 2018 e 2023. Para a exploração desse corpus e a geração dos dados foi mobilizada uma combinação metodológica entre ferramentas de análise textual da Linguística de Corpus, notadamente os recursos disponíveis no software AntConc 4.2.4 (Laurence, 2023), e expedientes qualitativos e interpretativistas de análise de discurso, desde sua perspectiva pragmática e socioantropológica. As jornadas anlíticas realizadas com o corpus permitiram apontar diferentes modos de materialização discursiva da violência de gênero, nas quais elementos semióticos empregados na construção das narrativas noticiosas indexam (apontam para) ideologias masculinistas e sexistas correntes na sociedade brasileira acerca da violência de gênero. Dentre esses funcionamentos, destacam-se: i) o silenciamento de vozes sociais feministas na construção das narrativas noticiosas, especialmente pelo apagamento de itens de um registro de gênero sobre os casos, como o emprego da própria expressão “feminicídio”; ii) a projeção de uma perspectiva individualizante e simplificadora do feminicídio, destituindo-o de sua dimensão cultural e histórica, por meio da validação da “retórica do caso isolado” e da perspectiva punitivista como solução para um problema social estrutural; iii) a ambiguização da autoria masculina nos crimes de feminicídio através de coordenações sintáticas que produzem efeitos de distanciamento entre os papéis semânticos de agente e paciente; iv) a hiper-descrição das ações violentas, dos cenários brutais dos crimes e da condição violentada dos corpos das vítimas e seus efeitos de espetacularização da violência de gênero e de revitimização das mulheres em casos de feminicídio. Em linhas gerais, o estudo permite problematizar ideologias ainda pervasivas sobre a neutralidade na atividade jornalística, bem como destacar o continuum das violências de gênero na linguagem (Silva, 2017; 2020) a que mulheres são iterseccionalmente submetidas. A crítica linguística da violência de gênero destaca, assim, a necessidade de redefinir o discurso midiático em torno do feminicídio.

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Palavras-chave

Feminicídio, Violência de gênero, Materialização discursiva, Narrativas jornalísticas, Femicide, Gender-based violence, Discourse, Journalistic narratives

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